Algum lugar do mundo, 11 de dezembro de 2016
Você sabe, não é tarefa fácil
amar alguém. É preciso ter uma energia, uma generosidade, uma cegueira. Há até
um momento, bem no início, em que é preciso saltar por cima de um precipício:
se refletirmos, não o fazemos.
Cuidado para não guardar esse
potencial para amar por toda uma vida e privar-se dos seus sonhos mais clichês
pensando ter agido por coragem, quando na verdade deixou que seus medos o
dominassem. Neste momento, não diga que está sozinho por ter sido nobre quando decidiu não magoar, e quem sabe até mesmo não destruir,
pessoas especiais que encontrou pelo caminho.
E matou lindos amores antes de
terem nascido. Por um tempo a mais para viver livremente. Por um tempo extra
pra se autodescobrir, criar coragem, ter certeza. Esperando a hora exata. Só
não sabia que quanto mais se descobrisse, mais se daria conta de seus vazios,
mais medo teria e mais incertezas te assombrariam a cada decisão. Só não
entendia que amar – de verdade – não implica em parar todo esse processo. Onde
aprendeu que amor é sinônimo de estar algemado, trancado, impedido de mudança e
crescimento?
E quem disse que tem obrigação de
só fazer escolhas certas? De que não pode simplesmente encarar uma decisão errada e mudar de direção conscientemente? Agora, encontrar um caminho cheio daquilo que gostaria
e abandoná-lo não é prudência – é covardia.
Não me entenda mal. Respeito seu
momento e suas angústias. Elas não são sem sentido. Existe sim nobreza em assumir
suas fraquezas e não querer que elas destruam a quem você viu um brilho. Deve
sentir-se orgulhoso em não estar mais naquele ponto em que se arrisca e, se não
der certo, dane-se o outro. Mas quem é você para saber o que a cada um é fatal?
Deixe disso. Tem medo é de perder-se novamente e de não saber quem você é no
meio de dois. Tem medo de não conseguir enxergar onde estará a vírgula, as
reticências e o ponto final.
Preciso te contar uma coisa. Sabe
aquele seu relacionamento fodido? Que te deixou com tanto receio de amar
novamente? Doeu demais, não é? Como é triste ver transformar-se em estranheza
algo que fora um dia tão lindo. Quanto sofrimento. Quanto dano foi causado em
vocês. Você não quer isso novamente. É prudente, entendo. Você sofre por algo que quebrou.
Não tinha mais jeito. O apego te deixou naquela situação até que os sentimentos
apodrecessem. Não se sinta culpado, talvez não haja um só ser que não tenha passado por um
desses.
Acontece que o problema nunca foi
amar e ser amado. O problema nunca foi estar em um relacionamento. E agora
acredita que este é o perigo. O perigo é a falta de sinceridade e respeito. É continuar
pisando em terra onde o amor já morreu faz tempo. E ao tentar evitar sofrimento igual fugindo de planícies férteis, talvez encontre um novo tipo de dor mais
a frente: a dúvida do que poderia ter sido, mas não foi por receio do mesmo (ou
do pior). E tenho dito, medo é algo que cresce rapidamente mesmo em ambientes inóspitos.
Imagine nesse seu coração?
Se me ouviu até aqui, deixe-me prolongar
mais um pouco... Não existe tempo certo além do agora. Cuidado com as decisões
que toma e que são baseadas em pensamentos sobre o futuro, pois quem fala por ele é o medo ou a ansiedade, os quais não são lá muito conhecidos pela criação de roteiros bonitos. O amor só fala no presente, em breves momentos.
Na vontade de ter mais um abraço daqueles que aquecem a alma. De sentir aquela
sintonia em uma conversa que vai muito além de papos Leblon. Ok, talvez seja bom somente por um final de semana,
um mês, um ano... Vai saber? Mas, por que privar-se desse presente da vida ao
preferir o pretérito imperfeito? Meu bem, viver não pede que sejamos perfeitos.
Às vezes vale a pena pagar pra ver.
Talvez pense que estou a tentar
convencê-lo. Negativo. É que vi em você algo especial, um potencial para o
profundo e fiz questão de deixar a reflexão.
Pode não ser pra agora, mas que seja feita a cada vez que a vida te trouxer uma
boa razão. Se minhas palavras
pareceram praga, não é a intenção tão pouco. Nada do que falo é livre de erros. Aqui não existe verdade
absoluta, somente o que sinto – o que vai muito além do que vejo. Além disso,
não há problema algum em querer estar sozinho. Até mesmo em passar a vida em
breves paixões. Só tenha certeza de que estará agindo pelos motivos certos e
fique atento, pois o medo, apesar de pessimista, é esperto e se disfarça de
nobre intenção.