Algum lugar do mundo, 14 de julho de 2016
Não, nós não estamos na mesma
página. Mas, sabe, não tem problema, está tudo bem.
Talvez nunca estejamos. Talvez nunca
aconteça conosco e nem com ninguém.
Quem sabe seja o tamanho dos
nossos livros. As dimensões das folhas, essa sua margem estreita. Ou mesmo o
meu jeito de sempre deixar uma página em branco no meio de cada nova história.
Talvez seja o rodapé que tanto
usei para fazer anotações quando voltei para velhas páginas ao invés de
escrever em folha branca ou aquelas que rabisquei quando a história não saiu
como gostaria. Sem contar nos rascunhos perfeitos que perdi tempo fazendo
enquanto a vida acontecia.
E essa minha pressa de quem
começou a escrever cedo. De fato, quase tive que comprar um livro novo. E se não
bastasse, em dias rebeldes escrevi, além de histórias, poemas e canções
borradas de riso, batom e choro.
É, nós não estamos na mesma
página mesmo. Mas por que estaríamos se nossos livros são diferentes? Se nem ao
menos gosto dessa sua letra grande e sem padrão?
E nossas histórias, nossos
contos, tão desiguais uns dos outros. Aqueles longos desabafos... Enquanto
gostava de escrever todos meus momentos, você preferia dormir com seu livro ao
lado, no chão.
Enquanto me expressava em versos
e estrofes, você era narrador onisciente, nem sempre tão ciente, de que sua
história tinha chegado ao fim.
E por que ter um só livro pra nós
dois? Isso atrapalharia a criação. Podemos escrever juntos em páginas
diferentes, alternando estilos, cores, entrelaçando nossas mãos.
Quem sabe até um dia, te deixo
escrever no meu livro uma dedicatória. Pode até ser simplória, mas precisa ter
um desenho no fim.
E te deixo enfeitar alguma
página, com as pétalas que secaram das rosas que me deu, da folha daquele
cata-vento do nosso primeiro encontro, com uma gota do vinho que comigo bebeu.
Nós não estamos na mesma página,
nem no mesmo livro, nem no mesmo momento. Sentimos a vida de maneiras
diferentes.
Mas, contanto que respeite meus
rabiscos e seu estilo não machuque meus sentimentos, te convido a compartilhar
comigo seus momentos. Dos mais felizes aos mais delicados. Tomando um café,
vinho ou chocolate quente ao meu lado.
E se um dia cansar dessa
história, que deixe um adeus de pelo menos um parágrafo e um ponto final
marcado. E após largar a caneta que me dê um abraço, pelos momentos que valeram
bons trechos no seu livro borrado.
Textos lindos e reflexões profundas. Super poéticos. Parabéns...
ResponderExcluirObrigada por isso.
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