Algum lugar do mundo, 14 de maio de 2016
Sentir-se à deriva na vida exige
coragem, fé e desapego ao medo. Não espere não sentir medo para soltar as
cordinhas que te prendem ao cais. Aceite que o medo está ali como um mecanismo
de defesa muito antigo e enraizado. Entenda de onde vem seu medo. Respire e sinta-o
agindo sobre você.
Normalmente, o medo vem da mente, que não é capaz de
suportar o vazio da insegurança. A mente não suporta nem mesmo a falta de um
plano B, quem dirá de um plano A. Mas, o que ela não sabe é que toda e
qualquer segurança é pura ilusão. E
não adianta tentar convencê-la do contrário.
A verdade é que, por mais seguro
você pense estar, por mais bem amarradas sejam suas cordas, quando se faz
necessária a hora da mudança, com um simples sopro a vida te empurra e te muda
completamente de direção. Não há corda e talvez não haja nem mesmo barco que
possa impedi-la.
Seria a vida, então, cruel?
Talvez, no primeiro susto, seja esta a sensação. Mas, cruel seria se ela nos
poupasse de todo aprendizado inerente à mudança. A vida não nos surpreende para
que soframos. Ela espera que possamos aprender algo com isso para sermos mais
fortes, para liberarmos o que não nos serve mais, coisa que, às vezes, é tão
difícil de ser percebida. Por mais seguro que o cais seja, nem sempre ele é abrigo da sua felicidade. A hora de partir chega quando a dor do vazio torna-se maior do que o medo do novo.
E como saber se um desejo de
mergulhar no desconhecido é puro impulso, fuga da realidade ou uma necessidade
real da alma? Primeiro, é preciso garantir que, caso você decida ficar à
deriva, poderá assumir e arcar com os riscos dessa mudança. Isto se chama
maturidade. Claro que, se você tem o apoio voluntário daqueles que o ama,
ótimo. Mas nunca solte suas cordinhas esperando ser salvo caso afogue-se. Se
você estiver preparado conscientemente para lidar com qualquer consequência da
sua escolha (o que não significa ausência de medo) e sentir que esse risco ainda
vale mais a pena do que o vazio das suas cordinhas seguras, provavelmente
trata-se de uma necessidade real.
E, finalmente, quando você se solta e vai, a dor que surge pela falta do concreto transforma-se, aos poucos, em liberdade e autodescoberta. Haverá momentos de escuridão, em
que nem mesmo a lua se fará presente. Estes momentos poderão ser sombrios ou
perfeitos para repousar a alma e se preparar para o dia que vem. Haverá
tempestades e lindos pores-do-sol. E, então, você perceberá que tudo isso já
existia antes, lá naquele cais, onde você tinha a ilusão de estar protegido. A
diferença é que agora você não sabe onde e quando irá atracar seu barco outra
vez. Talvez você nem queira mais deixar o mar. Enquanto isso, aproveite a
viagem. Quem sabe nos cruzamos por ai.
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