domingo, 1 de maio de 2016

Sejamos fora da caixinha


Faz parte da vida, a definição da nossa personalidade e, mesmo antes de nascermos, começamos a receber rótulos. No começo, apenas os aceitamos e queremos honrá-los. Posteriormente, passamos a criá-los e defendê-los.

Sinto que gostamos de rótulos, pois eles nos fazem sentir únicos. Como se fosse essencial personalizar uma caixinha de rótulos que te defina e que faça as pessoas lembrarem-se de você. Que faça com que você mesmo possa se descrever. E nos apegamos a essa caixinha. Alguns se apegam tanto, que nunca mais querem mudá-la. Talvez esses sejam os ditos “personalidade forte”. Já outros, estão sempre buscando um conjunto de rótulos mais bonitos pra colocar lá. E há de quem ouse questionar minha preciosa caixinha, principalmente pra sugerir que um rótulo feio deveria estar ali ou que um daqueles que mais aprecio não poderia ali ficar.

O problema é que, se você se confunde com a sua caixinha, pode acabar entrando num vazio imenso sem entender o porquê, já que possui tantos rótulos bonitos pra mostrar. Já que sua caixinha é colorida, tem glitter e toca música quando aberta. Já que tantos gostam dela.

Acontece que você não é sua caixinha e talvez tenha perdido tanto tempo com ela que se esqueceu de se encontrar. Talvez você não tenha percebido que mudou e que, há tempos, já é completamente diferente do que está lá. Talvez você tenha ignorado o que pensa e o que sente por julgar que não combinaria com a sua caixinha e por medo de como julgariam seu novo conteúdo. Por medo de afastar quem você ama.

E que graça tem todo essa trabalho de ornamentação para agradar os olhos alheios se ele não condisser com a realidade? Pior ainda, se nem ao menos soubermos quem somos? E quem não consegue expressar o que é sente raiva, mesmo que inconscientemente, de quem tem coragem de colocar na caixinha só o que vem de dentro e julga com estranheza o que é original. Tentando fabricar caixinhas socialmente aceitáveis, criamos um dominó de julgamento e desrespeito pela caixinha dos outros.

Por outro lado, pessoas que tem rótulos condizentes com sua essência não precisam esbravejar por ai “Ei, olhe meu rótulo, esse é real, eu sou mesmo assim!” Não. Normalmente, elas não se importam se os outros os aprovam ou não. Exigem apenas o respeito que todos merecem. Afinal, só estão sendo o que são. Nada podem fazer em relação a isso. Feio ou bonito, trata-se apenas da realidade. E elas se sentem livres pra mudar, pra melhorar, pois já não se importam com o desconforto que isso traz aos outros desde que estejam em paz consigo mesmas. Elas não se importam se não há palavras no nosso dicionário para descrever seu real estado de ser. Palavras são muito limitadas perto da realidade.

Estamos sempre buscando rotular uns aos outros e esquecemos que a vida é pura mudança. Damo-nos o direito de mudar somente um pouco por vez e em situações especiais. Por que nos limitamos? Por que temos medo de nos perder? De perder nossos rótulos, de esquecer a caixinha? Por que não deixamos o outro mudar e a nós também? Por que me sinto ameaçado quando percebo que meu companheiro/amigo/parente está mudando? Somos livres, pois! 

E, no fim, somente quando nos libertarmos dessa necessidade de entender e controlar caixinhas é que poderemos nos relacionar de forma genuína uns com os outros. Caixinhas com rótulos reais. Nunca perfeitos, mas que apenas são e deixam ser em paz



Imagem: http://www.asomadetodosafetos.com/2016/03/abrindo-o-bau-da-vovo-a-coragem-de-olhar-dentro-de-si-mesmo.html


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